sexta-feira, 5 de março de 2010


Me lembro com pouco ressentimento porque ele não me olhava mais, ou me olhava e não enxergava.
Meu jardim não se importava se eu os via molhados pelo orvalho.
Era indiferença aos meus apelos, indiferença aos meus gritos soltos no silêncio da sala.
Tentei em vão cultivar aquela terra, aquele jardim esquecido, porque ele me pertencia.
A beleza está no desespero, no vermelho vivo, em cada espinho daquelas flores.
O desespero faz parte do modo como eu cuidava dele, e me machucava com prazer em cada espinho do jardim...
Era meu modo particular de participar de suas defesas.
Daquela terra foi arrancado abruptamente contra sua vontade, e seus pedaços levados com o vento sem importância.
As minhas lágrimas tocaram seu rosto sem malícias, sem imaginar minha face contorcida naqueles dias de tempestades.
Quantas passaram entre as flores do teu jardim? E de mim não sobrou nem dor, nem raiva?
Quando passo pelo campo morto sinto falta... Orgulho ferido, forte esperança de que brote.
Então me sinto meio assim, menina solta no Jardim do futuro... Esse alguém serei eu.